terça-feira, 3 de abril de 2012

Vigília Pascal na Noite Santa




Vigília significa estar de vela na noite. Na tradição judaica passava-se a noite do dia 14 fr Nisán (início do ano) em vigília, para recordar a passagem de Yahvé, o êxodo do Egipto. Muito cedo os cristãos fizeram o mesmo para celebrar a noite pascal, permanecendo de vigília, à espera do dealbar da ressurreição, com leituras, salmos e orações. A vigília por excelência é a Vigília Pascal.

No Sábado Santo, a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando na sua Paixão e Morte. Abstém-se do sacrifício da Missa (a mesa sagrada continua despida) até ao momento em que, depois da solene Vigília ou expectativa nocturna da ressurreição, se dará lugar à alegria pascal, que na sua plenitude se prolonga por cinquenta dias.

Neste dia não é permitido distribuir a sagrada comunhão, a não ser como viático.





Vigília pascal na Noite Santa

Na noite, em que Jesus Cristo passou da morte à vida, a Igreja convida os seus filhos a reunirem-se em vigília e oração. Na verdade, a Vigília pascal foi sempre considerada a mãe de todas a vigílias e o coração do Ano litúrgico. A sensibilidade popular poderia pensar que a grande noite fosse a noite de Natal, mas a teologia e a liturgia da Igreja adverte que é a noite da Páscoa, «na qual a Igreja espera em vigília a Ressurreição de Cristo e a celebra nos sacramentos» (Normas gerais sobre o Ano litúrgico, 20). No texto do Precónio pascal, chamado o hino “Exsultet” e que se canta nesta celebração, diz-se que esta noite é «bendita», porque é a «única a ter conhecimento do tempo e da hora em que Cristo ressuscitou do sepulcro! Esta é a noite, da qual está escrito: a noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Por isso, desde o início a Igreja celebrou a Páscoa anual, solenidade das solenidades, com um vigília noturna.



Segundo uma antiquíssima tradição, esta é uma noite de vigília em nome do Senhor (Ex 12, 42), noite que os fiéis celebram, segundo a recomendação do Evangelho (Lc 12, 35 ss.), de lâmpadas acesas na mão, à semelhança dos servos que esperam o Senhor, para que, quando Ele vier, os encontre vigilantes e os faça sentar à sua mesa.

Toda a celebração da Vigília Pascal se realiza de noite, isto é, não se pode iniciar antes do anoitecer do Sábado e deve terminar antes do amanhecer do Domingo.

A Missa da Vigília Pascal, ainda que termine antes da meia-noite, é a Missa pascal do Domingo da Ressurreição. Quem participar nesta Missa pode comungar de novo na segunda Missa da Páscoa.

Quem celebrar ou concelebrar a Missa da Vigília pode celebrar ou concelebrar de novo na segunda Missa da Páscoa.

O sacerdote e os ministros revestem-se, desde o princípio, com paramentos brancos, como para a Missa.

Preparam-se velas para todos os que tomam parte na Vigília.



A celebração da Vigília pascal articula-se em quatro partes: 1) a liturgia da luz ou “lucernário”; 2) a liturgia da Palavra; 3) a liturgia batismal; 4) a liturgia eucarística.

1) A liturgia da luz consiste na bênção do fogo, na preparação do círio e na proclamação do precónio pascal. O lume novo e o círio pascal simbolizam a luz da Páscoa, que é Cristo, luz do mundo. O texto do precónio evidencia-o quando afirma que «a luz de Cristo (...) dissipa as trevas de todo o mundo» e convida a «celebrar o esplendor admirável desta luz (...) na noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!».

2) A liturgia da Palavra propõe sete leituras do Antigo Testamento, que recordam as maravilhas de Deus na história da salvação e duas do Novo Testamento, ou seja, o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinópticos, e a leitura apostólica sobre o Batismo cristão como sacramento da Páscoa de Cristo. Assim, a Igreja, «começando por Moisés e seguindo pelos Profetas» (Lc 24,27), interpreta o mistério pascal de Cristo. Toda a escuta da Palavra é feita à luz do acontecimento-Cristo, simbolizado no círio colocado no candelabro junto ao Ambão ou perto do Altar.

3) A liturgia batismal é parte integrante da celebração. Quando não há Batismo, faz-se a bênção da fonte batismal e a renovação das promessas do Batismo. Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal. A Igreja antiga batizava os catecúmenos nesta noite e hoje permanece a liturgia batismal, mesmo sem a celebração do Batismo.

4) A liturgia eucarística é o momento culminante da Vigília, qual sacramento pleno da Páscoa, isto é, a memória do sacrifício da Cruz, a presença de Cristo Ressuscitado, o ápice da Iniciação cristã e o antegozo da Páscoa eterna.

Estes quatro momentos celebrativos têm como fio condutor a unidade do plano de salvação de Deus em favor dos homens, que se realiza plenamente na Páscoa de Cristo por nós. Por consequência, a Ressurreição de Cristo é o fundamento da fé e da esperança da Igreja.





A luz e a água

A Vigília na noite santa abre com a liturgia da luz, evocando a ressurreição de Cristo e a peregrinação de Israel guiado pela coluna de fogo. A liturgia salienta a potência da luz, como o símbolo de Cristo Ressuscitado, no círio pascal e nas velas que se acendem do mesmo, na iluminação progressiva das luzes da igreja, ao acender das velas do altar e com as velas acesas na mão para a renovação das promessas batismais. O símbolo mais iluminador é o círio, que deve ser de cera, novo cada ano e relativamente grande, para poder evocar que Cristo é a luz dos povos. Ao acender o círio pascal do lume novo, o sacerdote diz: «A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito» e depois apresenta o círio como «lumen Christi - a luz de Cristo». Quando alguém nasce, costuma-se dizer que «veio à luz» ou que «a mãe deu à luz». Podemos, por isso dizer que a Igreja veio à luz na Páscoa de Cristo. De facto, toda a vida da Igreja encontra a sua fonte no mistério da Páscoa de Cristo.

A água na liturgia é, igualmente, um símbolo muito significativo. «A água é rica de mistério» (R. Guardini). Ela é simples, pura, limpa e desinteressada. Símbolo perfeito da vida, que Deus preparou, ao longos dos tempos, para manifestar melhor o sentido do Batismo. A oração da bênção da água faz memória da ação salvífica de Deus na história através da água. Com efeito, a água é benzida, para que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, «no sacramento do Batismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo». Na tradição eclesial, a fonte batismal é comparada ao seio materno e a Igreja à mãe que dá à luz

O simbolismo fundamental da celebração litúrgica da Vigília é o de ser uma “noite clara”, ou melhor «a noite que brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Esta noite inaugura o “Hodie - Hoje” da liturgia, como se tratasse de um único dia de festa sem ocaso (o dia da celebração festiva da Igreja que se prolonga pela oitava pascal e pelos cinquenta dias do Tempo pascal), no qual se diz «eis o dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos» (Sl 118).




Solene início da Vigília ou Lucernário


Introdução ao espírito da Celebração

Depois da cuidadosa preparação que foi para nós a Quaresma, vamos celebrar a ressurreição de Jesus, a Sua vitória sobre o pecado e a morte.

Nesta noite santíssima em que Jesus passou da morte para a vida, a Igreja convida os seus filhos para uma vigília de oração.

Começamos com a bênção do lume novo. Cristo é a luz que ilumina o mundo inteiro e a Sua ressurreição gloriosa é farol de luz para todos os homens.

Teremos, depois, a liturgia da palavra, com a meditação mais pausada da palavra de Deus, que enche a nossa alma da luz de Jesus.

Seguir-se-á, depois, a liturgia baptismal. Pela água do baptismo morremos com Cristo para o pecado e ressuscitamos com Ele para a vida nova da graça.

Finalmente, pela liturgia eucarística Jesus torna presente sobre o altar a Sua morte e ressurreição e alimenta-nos com a Sua carne e o Seu sangue, como Cordeiro da Páscoa nova



Bênção do fogo

As luzes da igreja devem estar apagadas.

Fora da igreja, em lugar apropriado, acende-se o lume. Reunido o povo nesse lugar, o sacerdote aproxima-se, acompanhado dos ministros, um dos quais leva o círio pascal.

Monição: Jesus ressuscitado é a luz que, na escuridão da noite, ilumina as almas de todos os homens. O Círio pascal é símbolo de Cristo. A sua luz comunica-se pela fé a cada um de nós, com a missão de a levarmos aos que estão à nossa volta.

Onde não for possível acender o fogo fora da igreja.

O sacerdote saúda o povo na forma habitual e faz uma breve admonição sobre o significado desta vigília noturna, com estas palavras ou outras semelhantes:

Caríssimos irmãos:

Nesta noite santíssima, em que Nosso Senhor Jesus Cristo passou da morte à vida, a Igreja convida os seus filhos, dispersos pelo mundo, a reunirem-se em vigília e oração. Vamos comemorar a Páscoa do Senhor, ouvindo a sua palavra e celebrando os seus mistérios, na esperança de participar no seu triunfo sobre a morte e de viver com Ele para sempre junto de Deus.

Em seguida, benze-se o fogo:

Oremos.

Senhor, que por meio do vosso Filho destes aos homens a claridade da vossa luz, santificai este lume novo e concedei-nos que a celebração das festas pascais acenda em nós o desejo do céu, para merecermos chegar com a alma purificada às festas da luz eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Do fogo novo acende-se o círio pascal.



Preparação do Círio

Pode ser oportuno realçar a dignidade e o significado do círio pascal mediante alguns símbolos. Isto pode fazer-se do seguinte modo:

Depois da bênção do lume novo, um acólito ou um dos ministros apresenta o círio pascal ao celebrante, o qual, com um estilete, grava no círio uma cruz; depois grava a letra grega Alfa por cima da cruz e a letra grega Ómega por debaixo e, entre os braços da cruz, grava os quatro algarismos do ano corrente. Enquanto grava estes símbolos, diz:

1. Cristo, ontem e hoje

Grava a haste vertical da cruz.

2. Princípio e fim

Grava a haste horizontal da cruz.

3. Alfa

Grava o Alfa por cima da haste vertical.

4. e Ómega.

Grava o Ómega por debaixo da haste vertical.

5. A Ele pertence o tempo

Grava no ângulo superior esquerdo o primeiro algarismo do ano corrente.

6. e a eternidade.

Grava no ângulo superior direito o segundo algarismo do ano corrente.

7. A Ele a glória e o poder

Grava no ângulo inferior esquerdo o terceiro algarismo do ano corrente.

8. para sempre. Amen.

Grava no ângulo inferior direito o quarto algarismo do ano corrente.

Depois de ter gravado a cruz e os outros símbolos, o sacerdote pode colocar no círio cinco grãos de incenso, em forma de cruz, dizendo:

1. Pelas Suas chagas                    1

2. santas e gloriosas,

3. nos proteja                       4    2    5

4. e nos guarde

5. Cristo Senhor. Amen.               3



O sacerdote acende do lume novo o círio pascal, dizendo:

A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito.



Estes elementos podem ser utilizados, no todo ou em parte, conforme as circunstâncias pastorais do ambiente e do lugar. Entretanto, as Conferências Episcopais também podem determinar outras formas mais adaptadas à índole dos povos.

Quando, por justas razões, não se acende o fogo, a bênção do lume será adaptada convenientemente às circunstâncias. Reunido o povo na igreja, o sacerdote dirige-se para a porta da igreja, acompanhado dos ministros com o círio pascal. O povo, na medida do possível, volta-se para o sacerdote.

Feita a saudação e a admonição, como acima no n. 8, procede-se à bênção do lume (n. 9) e, se parecer oportuno, prepara-se e acende-se o círio (nn.10-12).





Procissão

Monição: Depois de aceso o círio pascal, vamos, agora, acompanhá-lo em procissão, aclamando a Cristo luz de todos os povos.

O diácono, ou, na falta dele, o sacerdote, toma o círio pascal e, levantando-o, canta sozinho:

V. A luz de Cristo. Lumen Christi

R. Graças a Deus. Deo gratias



As Conferências Episcopais podem estabelecer uma aclamação mais solene.

Dirigem-se todos para a igreja, indo à frente o diácono com o círio pascal. Se se usa o incenso, o turiferário, com o turíbulo aceso, vai à frente do diácono.

À porta da igreja, o diácono pára e, levantando o círio, canta pela segunda vez:

V. A luz de Cristo. Lumen Christi

R. Graças a Deus. Deo gratias



Acendem então as velas do lume do círio pascal. A procissão continua; e, ao chegar junto do altar, o diácono, voltado para o povo, canta pela terceira vez:

V. A luz de Cristo. Lumen Christi.

R. Graças a Deus. Deo gratias.



E acendem-se as luzes da igreja (mas não as velas do altar: cf. n. 31).



O simbolismo fundamental da celebração litúrgica da Vigília é o de ser uma “noite clara”, ou melhor «a noite que brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Esta noite inaugura o “Hodie - Hoje” da liturgia, como se tratasse de um único dia de festa sem ocaso (o dia da celebração festiva da Igreja que se prolonga pela oitava pascal e pelos cinquenta dias do Tempo pascal), no qual se diz «eis o dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos» (Sl 118).





Cântico: Kerygma II - Ressurreição (Terceira Margem)



Na manhã da Ressurreição três mulheres ao sepulcro vão

E descobrem que a pedra rolou.

O anjo anuncia: “Ele ressuscitou!”

Elas vão a correr contar, Pedro e João vêm confirmar que



A promessa feita, acabou de ser cumprida

Depois do deserto, vem a Terra prometida

Ressuscitou, ressuscitou, ressuscitou Aleluia



É pra mim, é pra ti, é pra nós

A Boa Nova que temos na voz e cantamos com alegria

Acredita na verdade: Ele ressuscitou!

Este é o Kerigma, o caminho que conduz à eternidade.




Na nossa paróquia

Na nossa paróquia a Vigília pascal começa às 22h na Igreja Matriz de Vila do Conde. Todos somos convidados, no exterior, a participar no "acender do lume novo" e a levar velas, ou adquirir no local, para as acender no novo círio pascal.
A celebração decorre como anteriormente referido. Este ano, como habitualmente, teremos batismos durante a celebração e terminaremos com a apresentação das cruzes do Compasso Pascal a beijar.
Todos somos convidados a participar nesta Grande Vigília - a celebração por excelência para todos os católicos.



 

GINEL, Álvaro – Vocabulário Básico do Cristão. Edições Salesianas: Porto, 2001


Padre José Cordeiro, Reitor do Pontifício Colégio Português (Roma) em:





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