quinta-feira, 10 de maio de 2012

Símbolos do Espírito 2: O Fogo



Este símbolo que, por ter efeitos tão radicais e também tão importantes para a vida do homem (ilumina e aquece, queima e destrói), foi incluído, ao longo da história da humanidade, na maior parte das culturas, no próprio culto, podendo ser associado tanto às forças divinas como às demoníacas.

Na simbologia do Antigo Testamento, o fogo era a imagem que melhor exprimia o ser e a ação de Deus: A sarça ardente (Ex 3,2), a coluna de fogo aspeto da magestade do Senhor (Ex 24, 17) e muitas outras (Cfr. Ez 24, 17; Jr 21, 12; Dt 32, 22; Is 66, 15, etc.).

No culto, o fogo era utilizado para queimar as ofertas no altar e o incenso no turíbulo (Lv 1, 7ss; 3,5; 6,9ss; I16, 12ss). Segundo o Povo de israel, Deus fazia-se presente no meio dele como um juiz que liberta e castiga. E o fogo transformou-se, precisamente, em expressão destes aspetos da sua atuação.

No Novo Testamento, encontramos o anúncio do batismo no Espírito Santo e com fogo (Mt 3, 11); Deus é apresentado como fogo devorador (e 12, 29); o prórpio Jesus diz que veio trazer o fogo à terra (Lc 12, 49); Ele virá em fogo ardente, e fará justiça aos que não conhecem a Deus e não obedecem ao Evangelho (2 Ts 1, 7-10). Uma expressão equivalente, utilizada pelos judeus, é gehenna, «lugar onde se queimava o lixo de Jerusalém» e que, na linguagem de Jesus, ser «lançados na gehenna» significava morte definitiva (Mc 9, 43-47). Em sentido positivo, é importante realçar que o fogo iluminador e inflamante do Espírito é, no Pentecostes, dador de Vida.

Com efeito, para os cristãos, o fogo que se acende na noite da Páscoa simboliza a luz-vida nova de Jesus Ressuscitado que ilumina o caminho do seu povo, tal como a coluna de fogo iluminava e transmitia calor ao Povo de Israel durante as noites da longa travessia pelo deserto. A imagem da vinda do Espírito Santo em forma de línguas de fogo, pode também ser relacionada com o início de uma nova vida, porque, ao queimar o pecado, a injustiça, a desigualdade e o ódio, e ao difundir compreensão e coragem para a Missão, gera um Povo totalmente renovado, nascido, precisamente, do Espírito.


Miguel Varela, Celebremos a Páscoa e o Pentecostes. Paulus: S. Paulo, 2001

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Símbolos do Espírito 1: O Vento

O vento e o fogo

Para os povos semitas, como para todos os povos do Oriente, a linguagem simbólica é a mais apropriada para exprimirem as suas crenças.
Apesar de haver muitos símbolos para representar o Espírito Santo, concentraremos a atenção nos dois que constam do relato dos Atos dos Apóstolos 2, 1-4: O Ventro (sopro) e o Fogo. A enorme quantidade de passagens bíblicas em que estes símbolos aparecem, revela-nos a importância que o Povo de Israel lhes atribuía.


O Vento

O vento é invisível e imprevisível. Na Antiguidade, era considerado como sendo a respiração da terra, caprichosamente expressa pelo zumbido ou bramido da tormenta. Também era temido pela força destruidora que tinha.
No Antigo Testamento, para nomear o vento, utilizava-se a palavra ruah, também significava: princípio da vida, alento, respiração. O Espírito de Deus relacionado com o «vento», o que dá lugar à ideia do Espírito como «alento de Deus» ou «força de Deus».
O Sopro de Deus está presente desde o início da Criação (Gn 1,2) e comunica a vida ao homem (Gn 2,7). Este vento vem e penetra, remetendo-nos, pois, para o agir de Deus na história do seu povo (Ez 37, 9). Um texto sumamente rico em elementos simbólicos é o da revelação de Deus a Elias, na «brisa suave» (1Re 19, 11ss). Todos os profetas recebem o Espírito de Deus quando da sua vocação. Por isso, são considerados «homens do Espírito», já que receberam o «sopro», e foram fortalecidos e enviados a cumprir uma missão.
No Novo Testamento, no seu diálogo com Nicodemos, Jesus comprara o Espírito de Deus com o vento, que sopra onde quer e não se sabe para onde vai (Jo 3,7ss). Deus promete um novo sopro do Espírito: sopro de criação e de ressurreição, que vem no dia de Pentecostes (Act 2, 2-4). Como vemos, o vento pode ser sopro de vida que faz crescer ou furacão violento que destroça.



Miguel Varela, Celebremos a Páscoa e o Pentecostes. Paulus: S. Paulo, 2001

domingo, 6 de maio de 2012

Pentecostes: tempo de comemorar 2

B. Origem e sentido da festa cristã no Novo Testamento

A festa cristã tem as suas raízes na festa judaica. Embora o povo de Israel já lhe tivesse atribuído um significado religioso, os primeiros cristãos conferir-lhe-ão um outro, totalmente renovado. Para o descobrir, é necessário verificar que, nos Evangelhos, esta festa nunca é mencionada; só aparece no livro dos Avtos dos Apóstolos 2,1; 20,16 e na Primeira Carta aos Coríntios 16,8. Em ambos os textos, a palavra Pentecostes refere-se à festa judaica.

A festa do pentecostes, da colheita, ou dia de ação de graças, que se cleebrava no tempo de Jesus, tinha lugar sete semnas depois da Páscoa; era a festa dos primeiros frutos (Nm 28, 26), da ceifa (Ex 23, 16) ou das Semanas (Ex 34, 22).

A festa cristã do Pentecostes é notoriamente diferente da festa judaica; só coincidem no nome. A festa cristã celebra a vinda do Espírito Santo sobre ols Apóstolos e o nascimento da Igreja que abre as suas portas aos povos não judeus ou pagãos. A palavra «Pentecostes» para designar esta festa deve ter aparecido bastante mais tarde, nos primeiros séculos do Cristianismo.

Para os cristãos , a festa da Páscoa prolonga-se durante cinquenta dias. A este tempo chamamos «Tempo Pascal» ou «Cinquentena Pascal», e termina com a Festa do Pentecostes. A importãnciua desta festa litúrgica é comparável à da Páscoa.

Durante a Idade Média (séc. VII), alguns teólogos começaram a relacionar a vinda do Espírito Santo com os sete dos que figuram em Isaías 11, 2-4a. Desde então, a festa do Pentecostes é associada à efusão dos sete dons do Espírito Sanro.


Em síntese:
Com o Pentecostes cristão fica sem efeito o antigo legalismo hebraico e inicia-se uma nova Lei, fundada na liberdade que advém da força do Ressuscitado, a mesma que impulsiona o afã missionário da Igreja nascente. Por este motivo, a precisão cronológica de saber se foram exatamente 50 dias os que decorreram entre a ressurreição de Jesus e a vinda do Espírito Santo tem apenas valor simbólico.


Miguel Varela, Celebremos a Páscoa e o Pentecostes. Paulus: S. Paulo, 2001

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Pentecostes: tempo de comemorar 1

Em muitos povos e culturas, as festas mais importantes tinham lugar segundo o ritmo marcado pelo trabalho da terra. Neste sentido, os povos do Oriente não foram excepção: as suas celebrações eram fortemente marcadas pelos ciclos de fertilidade da natureza.

Para honrar a Deus Criador e Soberano, o Povo de Israel assume e transforma as festas do ano natural. O processo por meio do qual se realiza esta transformação, reflete a evoluação de Israel, que deixa de ser um povo unicamente ligado à natureza, para se converter num povo vinculado a história. De facto, às festas de origem agrícola foram-se juntando pedaços da vida de Israel, como razões festivas espirituais que ajudavam a reconhecer Deus presente no decurso do tempo.

Enquanto que, nas festas agrícolas, aquilo que celebravam era natural e espontâneo (esperança face à nova sementeira, alegria pela colheita), nas festas religiosas, pelo contrário, o povo de Israel celebrava intencionalmente a consagração do tempo, isto é, os eventos do passado que tinham marcado etapas-chave na História da Salvação. Em ambos os casos, tratava-se de celebrar o mesmo Deus que intervém na história e que continua a atuar na natureza. Os testemunhos que descervem como um povo muito festivo, considerado pelos seus vizinhos como um povo de bons cantores e dançarinas, confirmam este espírito celebrativo. Sinal evidente disto mesmo, é a grande quantidade e variedade de salmos e hinos que compuseram.

Parar conhecer a idiossincrasia de um povo e compreender os seus costumes, é necessário dialogar com a sua história, investigar o seu passado, partilhar o presente, descobrir os projetos que tem para o futuro. Neste sentido, entrar em contato com as suas festas e com o modo como são celebradas, aproxima-nos do seu mundo interior; do espírito que o anima. Por isso, vamos esforçar-nos por nos aproximar lentamente do povo de Israel para correr o véu do tempo e participar alegremente nas suas festividades.

Entre numerosas festas que, impreterivelmente, celebrava o povo eleito, destacam-se as três festas de peregrinação: A Páscoa (ou Festa dos Pães Ázimos); o Pentecostes (ou Festa das Semanas) e a Festa dos Tabernáculos (ou Choças, Cabanas ou Tendas). Os nomes alternativos destas festas, que colocámos entre parêntesis, são todos de origem agrícola e, portanto, anteriores ao nome e sentido religioso que preferimos realçar.

O Livro do Deuteronómio, ao fazer-lhes referência, menciona-as do seguinte modo:

«Três  vezes por ano, todos os varões se apresentarão diante do Senhor; teu Deus, no santuário que Ele tiver escolhido: na festa dos Ázimos, na festa das Semanas e na festa das Tendas. Ninguém aparecerá com as mãos vazias diante do Senhor, teu Deus, lhe tiver concedido» (Dt 16, 16-17).

A festa que mais nos interessa, neste momento, é a segunda, ou seja, a Festa do Pentecostes (ou das Semanas). A palavra Pentecostes é de origem grega e significa «cinquenta». No calendário judaico, indicava a festa que se celebrava cinquenta dias depois da festa da Páscoa.


A. Origem e sentido no Antigo Testamento

A festa das Semanas ou Pentecostes era a segunda grande festa anual que encerrava a colheita dos cereais. Para a celebrar, instaurava-se o descanso laboral, realizavam-se cerimónias em assembleias, apresentavam-se ofertas e sacrifícios voluntários.
A celebração desta festa é referida em vários escritos do Antigo Testamento. vejamos os mais significativos:

«Guardarás também a festa da ceifa, das primícias do teu trabalho, daquilo que semeaste no campo, e a festa da colheita, à saída do ano, quando recolheres  os teus frutos do campo» (Ex 23, 16)

«Contarás sete semanas a partir do momento em que começares a meter a foice nas cearas. Celebrarás, então, a festa das Semanas em honra do Senhor, com as tuas ofertas voluntárias, segundo as bençãos que o Senhor, teu Deus, te tiver concedido» (Dt 16, 9-10)

Com ó correr dos anos, às ofertas voluntárias, juntaram-se os pães com fermento, amassados com farinha de trigo, e as ofertas dos animais:
´
«Depois contarás sete semanas completas, a aparr do dia seguinte ao do sábado, isto é, do dia em que tiverdes feito o rito da apresentação da gavela das espigas. Contareis até ao dia seguinte da sétima semana, isto é, cinquenta dias, e oferecereis ao Senhor uma nova oblação.
Trareis, de onde quer que habiteis, dois pães, feitos dos décimos de efá de flor de farinha, cozidos com fermento, para o rito da apresentação; serão as p´rimícias para o Senhor. Juntamente com os pães, ofereceis sete cordeiros de um ano, sem defeito, um novilho e dois carneiros; serão um holocausto ao Senhor, com as suas oblações e as suas libações, como oferta queimada de odor agradável ao Senhor. Oferecereis também um bode em reparação pelo pecado, e dois cordeiros de um ano como sacrifício de comunhão» (Lv 23, 15-18)

Estes textos não são os únicos, mas são suficientemente expressivos para nos facultar uma compreensão global do que esta festa significava para a vida do Povo de Israel e para a sua relação com Deus.

Originariamente, era apenas uma festa agrícola que celebrava a alegria pela colheita (cf. Ex 23, 16), mas desde o exílio na Banilónia (séc.  V a. C.) passou a ser uma celebração da Aliança entre Deus e o seu Povo, quando Moisés recebeu as tábuas da Lei no monte Sinai. Depois, no século anterior ao nascimento de Jesus, esta festa foi adquirindo uma enfase cada vez maior como festa de ação de graças pela Lei. a importancia atribuída a esta festa fazia de Jerusalém o centro de inúmeras peregrinações provindas das diversas colónias judaicas dispersas.

Esta identificação com a Lei possibilitava que Israel se entendesse como um Povo. A Aliança, de faco, era a chave a partir da qual podia se entender a seua relação com Deus e organizar; com base numa ética bem definida, a vida dos seus membros.

Os significados da festa do Pentecostes, como veremos, ir-se-ão modificando com o passar dos anos, segundo as situações histórias atravessadas pelo povo; isto é, serão se-significados até chegarem ao seu sentido cristão, completamente diferente do original.



Miguel Varela, Celebremos a Páscoa e o Pentecostes. Paulus: S. Paulo, 2001



No próximo, Pentecostes: tempo de comemorar 2, será abordado a "Origem e sentido da festa cristã no Novo Testamento".

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Palavra de Deus e castidade: Lectio Divina 5

Jo 13, 34-35

Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.»


 
Lectio

No contexto, da Última Ceia, a poucas horas da sua morte, Jesus está consciente de que tem pouco tempo. Tem de dizer o essencial. E o essencial é o amor. Um amor à maneira de Jesus. Não um amor mais ou menos, ou quando apetece. Um amor como o d’Ele: total. E isso definirá a identidade dos discípulos. É indiferente que os cristãos sejam conhecidos pela sua liturgia ou pelos seus dogmas. O essencial é que sejam capazes de se amarem uns aos outros. Como Ele o fez.


Meditatio

Esta palavra “amor” é tramada. Quer dizer tantas coisas. Serve para falar de emoções sérias e banais, para falar de relações longas e de encontros casuais. Para nós, amor é só à maneira de Jesus. Saindo de si, desejando ardentemente o bem do amado, dando por ele a vida. Amor que não dá borlas a egoísmos nem a interesses mesquinhos. Amor total como Jesus. E isso nos define como seus discípulos.

Está difícil para os discípulos de Jesus viverem a sexualidade ao ritmo desse amor de Jesus. Mas a Palavra de Jesus é clara. Se na nossa sexualidade optamos por outros estilos que não o de Jesus, já não somos dos seus discípulos.


 
Oratio

Senhor, Tu nos ensinas como deve ser vivida a vida: amando à tua maneira.

Na partilha contigo, Tu me mostraste que estás ao meu lado e amparas e fortaleces o meu compromisso de viver amando como Tu, em todos os aspectos da minha vida.

Que o meu corpo, que a minha sexualidade, saiba acolher o teu mandamento novo. E assim, cada um dos meus gestos, dos meus pensamentos, será um testemunho da tua presença de ressuscitado.


Actio

A forma como vivo a minha sexualidade anuncia que sou discípulo de Jesus? Os meus gestos, as minhas atitudes concretizam o mandamento do amor?
 
 
GPS3, Módulo Eles & Elas - Edições Salesianas

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Palavra de Deus e castidade: Lectio Divina 4

1Jo 3, 16

Foi com isto que ficámos a conhecer o amor: Ele, Jesus, deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.


Lectio

A fé cristã é muito realista. Todos os grandes valores e ideias têm uma base sólida de experiência. O maior deles é o amor. E o amor é um valor para nós porque Jesus o viveu efectivamente. O Novo Testamento não é senão uma recordação da vida real de Jesus, dos gestos que Ele fez. Do seu amor feito gesto concreto. Da sua vida oferecida totalmente.

E é a partir da memória de Jesus e do seu estilo de vida que nós aprendemos o que é o amor: é dar a vida como Ele.


Meditatio

Podemos escolher. Hoje, os grupos, a sociedade, têm menos poder que antes para nos impor regras de comportamento. Está nas nossas mãos escolher. O que é que é importante para a nossa vida? Que valores organizam a nossa sexualidade? Podemos escolher.

Podemos escolher as vozes da maioria ou dos poderosos: prazer, domínio, aparência, auto-realização… Há muitas opções. Mas podemos escolher o amor. Amor a sério. Não daquele que se reduz a emoções apressadas para combater a solidão. Amor daquele que leva a dar a vida ao outro. A confiar-lhe os segredos e as fragilidades. A fazer com que de dois passemos a ser uma só carne. Amor que é maior do que sexo. Amor que dá sabor ao sexo. Amor como o de Jesus.


Oratio

Agora já conheço o amor. Quando olho para Ti, Jesus, já sei como amar. Os teus gestos, a maneira como falavas, a maneira como olhavas e respeitavas homens e mulheres, é para mim uma fonte de inspiração.

Agora já sei como escolher os meus caminhos. Quando me sentir dividido, inseguro nas escolhas, basta-me olhar para Ti e para o teu estilo: dar a vida pelos outros. Sempre. Em todos os aspectos da minha vida.


Actio

Hoje vou fazer um gráfico com a minha vida. Para saber onde gasto mais energias. Com o meu próprio bem-estar ou com os outros. Para saber o que quero mesmo: estar virado para mim mesmo ou viver indo ao encontro dos outros?
 
 
GPS 3, Módulo Eles & Elas - Edições Salesianas

terça-feira, 1 de maio de 2012

Palavra de Deus e castidade: Lectio Divina 3



Mt 5, 27-28

«Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração.»


Lectio

Jesus é radical. Ele recorda a clareza dos mandamentos. Neste caso, o sexto mandamento dizia “não cometerás adultério”. Respeitarás a sacralidade do matrimónio. Não podes deixar que uma sexualidade egoísta se sobreponha a uma aliança que Deus abençoou.

Mas Jesus vai mais além. Jesus radicaliza e interioriza. Os gestos exteriores, também os da sexualidade, começam no coração. Transformar a imagem duma pessoa em objecto de desejo já é degradar a sexualidade.


Meditatio

Que estranhas que nos soam estas palavras. Se acompanharmos as novelas (as de ficção e as da vida real) vemos como a fidelidade matrimonial caiu totalmente em desuso. Para tanta gente de hoje, não há outra lei que não seja a satisfação dos desejos pessoais, por muito egoístas que sejam. Doa a quem doer. Rasgando os compromissos que for preciso.

A tentação de viver a sexualidade de forma egoísta, ao sabor do “apetece-me” não é de hoje. E em todos os tempos, Jesus continua a radicalizar: “Não cometerás adultério.” Nem com o corpo todo nem com pensamentos. O corpo, o teu e o do outro, merece mais. Aos olhos de Deus vales muito mais do que os teus instintos.


Oratio

É exigente, Jesus, a leitura que Tu fazes da Palavra de Deus. Mas fico feliz. Porque Tu acreditas que somos capazes de viver uma sexualidade verdadeiramente humana. Capaz de respeitar os compromissos, os valores, os projectos. Obrigado pelas tuas indicações e pela tua presença na nossa vida que nos ajudam a viver uma sexualidade integrada, autêntica, honesta.


Actio

Há pessoas (com quem nos cruzamos ou de quem conhecemos a imagem) que reduzimos a objectos sexuais. Hoje é o dia de dizer não. Hoje recuso ver essas pessoas como objecto. Hoje vou tentar perceber que, para lá das aparências, cada pessoa é uma pessoa e não um objecto. Com sentimentos, com sonhos, com dignidade.
 
GPS 3: Módulo Eles & Elas, Edições Salesianas

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Lectio Divina: esquema

A lectio divina é uma forma de rezar com a Bíblia. Esta deve ser lida com fé, humildade e amor.
Neste tipo de oração o processo é feito de cinco passos:
  1. lectio
  2. meditatio
  3. oratio
  4. contemplatio
  5. actio
O número de passos não é tão importante como o desafio de encontrar Deus e a atitude com que o fazemos.

Lectio
Uma leitura ou escuta simples da passagem. Uma escuta com os “ouvidos do coração”.
Agora é tempo de “esmiuçar” o texto. Para te ajudar nessa análise do texto segue os passos que se seguem (podes e deves riscar o texto à vontade):
1) Identifica os personagens:
  • Individuais ou colectivos 
  • Que sabes sobre eles? 
  • Que profissão têm? 
  • Qual o seu estilo de vida?
 2) Identifica os lugares
3) Quais os factos mais importantes?
 
4) Identifica as palavras difíceis
5) Associar verbos e personagens Ou adjectivos e personagens
6) Quais os protagonistas
  • Que procura cada um? 
  • O que o ajuda? 
  • O que dificulta? 
  • O resultado final corresponde ao que se desejava no início?
 7) Se estiveres em grupo: partilha com o grupo a reflexão que fizeste. É o momento de esclarecer alguma coisa que tenha ficado menos perceptível.

Meditatio
“Este é um momento de reflexão interior, no qual a nossa alma se volta para Deus e tenta perceber o que é que a Palavra nos diz, nos dias de hoje” (Papa Bento XVI).
Neste passo (meditatio) trazemos a leitura até à nossa vida pessoal. Para o fazermos é importante perceber o contexto em que foi escrita. Antes de lermos novamente a passagem deixamos alguns momentos para incorporarmos o contexto desta passagem.
Lê uma segunda vez a passagem.
Fecha os olhos e imagina-te dentro da história 
  • o que vês?
  • o que ouves?
  • com quem é que mais te relacionaste?
 Quando quiseres abre os olhos e reflecte até que ponto esta passagem retrata algo da tua vida neste momento?
Aproveita esta ocasião para examinar a tua situação actual e organizares o teu futuro à luz da Palavra.

Oratio
Só a experiência do silêncio e da oração oferece o ambiente adequado para maturar e desenvolver-se um conhecimento mais verdadeiro, aderente e coerente daquele mistério cuja expressão culminante aparece na solene proclamação do evangelista João: «E o Verbo fez-Se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade» (Jo 1,14). (Papa João Paulo II, Novo Millenium Ineunte, 20)
Oratio significa rezar. Quando entramos em diálogo com Deus. Abrimo-nos intimamente a Deus e ouvimos a Sua voz no nosso coração. Este tempo de oração é pessoal. Cada um é convidado a colocar-se diante de Deus.
Durante alguns momentos dialoga intimamente com Deus.
O que estás a sentir? Alegria, dor, medo, gratidão?
O que é que a Palavra inspirou em ti?
Deixa que Deus te responda e faz com que a Sua voz seja ouvida no teu coração.

Contemplatio
“… à plena contemplação do rosto do Senhor, não chegamos pelas nossas simples forças, mas deixando a graça conduzir-nos pela sua mão.” (Papa João Paulo II, Novo Millenium Ineunte, 20)
Contemplatio surge espontaneamente da meditatio. Vai até onde a graça do Espírito Santo te levar.
Não há regras na contemplatio. Cada um deve experimentar que encontrar Deus é graça, é dádiva gratuita. Não podemos fazer com que este encontro aconteça. É suficiente estarmos abertos e disponíveis para recebermos Deus, na medida em que Ele quer vir ao nosso encontro.
Simplesmente fica na presença de Deus, desfrutando do Seu amor por ti.

Actio
“Construir a vossa vida em Cristo, aceitar a Sua palavra com alegria e pôr os seus ensinamentos em prática. Isto, juventude do terceiro milénio, deve ser a vossa meta.” (Papa Bento XVI)
Este é o último passo e talvez, dos mais importantes. O apóstolo Tiago recorda-nos: “Mas tendes de a pôr em prática e não apenas ouvi-la…” (Tg 1,22).
Lê outra vez a passagem.
Ouve e reflecte naquilo que Deus te está a pedir para fazeres ou seres.


Se estiveres em grupo, no final, partilha a tua reflexão com o grupo.
Escuta atentamente o trabalho do Espírito Santo em cada uma das pessoas, como Deus trabalhou no coração de cada um.
Para finalizar o nosso momento de oração, de mãos dadas, rezamos por cada um, com as palavras que Jesus nos ensinou. Pai nosso…

GPS 2, Edições Salesianas

Palavra de Deus e castidade: Lectio Divina 2

Mt 5, 8

Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.


Lectio

Os puros de coração. O coração é o centro da pessoa. Onde se decide o bem e o mal. Onde moram a vontade e os projectos. Os puros de coração são aqueles que no seu íntimo, na verdade profunda de si mesmos, olham a realidade com o olhar de Deus. O seu coração está cheio de Deus e dos seus valores. Neles já não há espaço para a maldade, para o egoísmo. E por isso vêm a Deus. Enquanto uns olham para o outro ou para si como um objecto de desejo e prazer em função do egoísmo pessoal, os de coração puro vêm Deus em tudo. E olham para o outro como Deus olha para Ele. Com ternura, paciência, respeito, reverência.


Meditatio

Jesus é mesmo o homem do Evangelho, das boas notícias. Com Jesus é possível estar na vida de coração puro. E este dom de ver os outros, a realidade, como Deus nos vê, é fantástico. O que quer dizer que é possível vivermos a sexualidade sem sermos mais escravos dos condicionamentos dos media e dos nossos instintos. Podemos olhar o outro como pessoa, não já como objecto. E vivendo a nossa sexualidade com um olhar puro, respeitador da integridade do outro, aproximamo-nos de Deus.


Oratio

Senhor Jesus, ajuda-me a viver esta bem-aventurança da pureza de coração. Ajuda-me a olhar o mundo, as pessoas, os corpos como Tu os olhavas. Purifica o que há ainda em mim de egoísmo.


Actio

Como olhas tu para o corpo dos outros? Hoje podes tentar olhar o corpo dos outros já não como objecto mas como pessoa integral que podes amar com Jesus ao teu lado. Com Jesus.


GPS 3, Módulo Eles & Elas - Edições Salesianas

domingo, 29 de abril de 2012

Palavra de Deus e castidade: Lectio Divina 1

1Cor 6, 15-20


Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? (...) Mas quem se une ao Senhor, forma com Ele um só espírito. Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é exterior ao seu corpo, mas quem se entrega à impureza, peca contra o próprio corpo.

Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.




Lectio

Para S. Paulo e para toda a Bíblia, o corpo é quase o mesmo que a pessoa toda. Não é apenas uma parte da pessoa, uma “peça” biológica. Para a Bíblia, a pessoa é fortemente unificada. Não faz sentido falar do corpo à parte dos sentimentos ou dos valores.

O corpo é o templo de Deus. Se o corpo é a pessoa toda, a relação com Deus “mora” no corpo. O uso que damos ao corpo relaciona-se fortemente com a qualidade da relação com Deus.


Meditatio

Vivemos vidas muito compartimentadas. Muito fragmentadas. Entre instantes diversos, tarefas diferentes.

Como se cada um de nós não fosse uma unidade mas um sortido de peças. A Palavra de Deus pede-me que recupere a unidade de mim mesmo.

Temas como o desejo, o prazer, o sexo são vistas como “coisas” do corpo que não têm nada a ver com as “coisas” espirituais: os valores, a fé. A Palavra de Deus propõe-me que volte a viver a minha sexualidade de forma unificada. Em sintonia com todas as dimensões da minha vida. O meu corpo, os meus sentimentos são “templo do Espírito Santo”. Não são “opostos” a Deus nem desprezíveis aos olhos de Deus.


Oratio

Senhor, ensina-me o que é isso de “glorificar” a Deus com o corpo.

Às vezes mal, mas já aprendi a rezar com as palavras e com a tua Palavra, a Bíblia.

Como glorificar-Te com o corpo? Quais os gestos, as posturas do meu corpo que Te podem glorificar? Que podem dizer a todos o que Tu fizeste por mim? Que podem anunciar a tua bondade e o teu plano de amor para toda a humanidade?

Tantas vezes o meu corpo só sabe gritar que quer prazer egoísta!

Vem, Senhor, com o teu Espírito, com os seus sete dons até à minha vida. E muda a maneira como vejo e actuo com o meu corpo.


Actio

Vou empenhar-me em ver o meu corpo não como mercadoria de moda mas como corpo que Deus ama. Como corpo capaz e digno de anunciar a beleza do Senhor e o seu amor por todos nós.
 
 
GPS 3, Módulo Eles & Elas - Edições Salesianas

sábado, 28 de abril de 2012

GPS Eles & Elas: algumas anotações

Integridade


A palavra "integridade" vem de íntegro, que quer dizer inteiro, total, completo. Uma pessoa íntegra, com integridade, é uma pessoa onde as suas atitudes e ações refletem a totalidade humana a que Deus a chama.

Quer a fé, quer a sexualidade estão presentes em todos os aspetos do nosso ser: corpo, alma, sentimentos, projetos... Nenhum destes aspetos pode ser isolado. Nós somos pessoas inteiras, integras, criados à imagem de Deus.

Uma sexualidade íntegra tem três dimensões. Quando unidas estas três dimensões permitem uma sexualidade plena, de acordo com o plano de Deus para nós.
  • Prazer físico;
  • Reprodução da vida;
  • Expressão de entrega tota (amor entre os esposos, após o casamento). 



 E se só uma ou duas destas dimensões existirem?
  • Quando alguém se envolve sexualmente apenas pelo prazer, essa pessoa está a usar o parceiro como objeto. Mesmo que ambos os parceiros estejam de acordo, estão a deixar de fora a dimensão emocional e espiritual do sexo.
  • Quando alguém se envolve sexualmente apenas em função de conceber uma criança, o acto é pouco íntegro: falta amor, envolvimento emocional.
  • Se alguém se envolve sexualmente apenas como forma de exprimir o compromisso na relação mas sem prazer estamos perante um frete e não perante uma relação sexual saudável.
  • É comum duas pessoas envolverem-se sexualmente procurado prazer e expremindo amor. Mas isso deixa de fora o aspeto reprodutivo. É claro que nem todos os actos sexuais resultam numa vida nova mas essa possibilidade existe. Se as pessoas não estão disponíveis para aceitar e cuidar de uma possível nova vida, não têm o tipo de amor tão comprometido e responsável que o sexo quer exprimir.
  • A Igreja, os discípulos de Jesus, vêem no sexo um sinal do amor sacramental, um encontro profundo com Deus através do amor dos esposos.



Palavra de Deus


O Evangelho é uma pista decisiva para uma vida de qualidade. Mas não é um manual de instruções com respostas prontas para todos os nossos desafios. Mas a respeito das tantas opções que temos para viver a nossa sexualidade, podemos orientar-nos por esta pergunta:

"Esta acção em concreto contribui para tornar a relação de casal mais saudável, mais santa, mais respeitadora do outro, mais cheia de plenitude?"

Na oração pessoal, no diálogo sincero entre o par, deve procurar uma decisão a partir de uma consciência retamente formada e informada. Este diálogo torna-se mais fácil quando ambos assumem padrões elevados de qualidade na relação, na linha de quererem uma relação íntregra.



Para orar:

"Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebeste de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço! Glorificai, pois a Deus no vosso corpo." (1Cor 6, 19-20).

A partir de amanhã e durante os próximos cinco dias, somos convidados a fazer uma experiência de Lectio divina diária. Os textos serão colocados aqui diariamente.


GPS 3, Módulo Eles & Elas - Edições Salesianas

terça-feira, 10 de abril de 2012

Não sejam enganados!




À poucos dias fui confrontada com uma imagem como esta no facebook. Não consegui ficar calada e comentei quer na imagem em si, quer em quem a partilhou. Não passou nem um minuto tive um gosto ao comentário e o comentário foi eliminado e o meu acesso à imagem negado.

Não podemos ficar indiferentes. Esta imagem transmite uma mensagem completamente errada e que fica no inconsciente das pessoas, que as leva a se afastarem de Deus e da Igreja.

Atenção: a maior organização caritativa do mundo é a Igreja. Continuamente do Vaticano são enviados recursos humanos (missionários) e recursos financeiros para todo o mundo. O Vaticano tem riqueza? Claro que sim, em obras de arte de valor incalculável e não vendáveis e que ainda é preciso manter.

Quando me perguntam se o demónio existe, eu digo que não estejam à espera de um capeta vermelho, chifrudo e com um tridente nas mãos. Pessoal o demónio está aqui e em todas as ações que transmitam uma mensagem que afaste as pessoas de Deus e da Igreja (o demónio não tem que provar que existe, tem que negar a existência de Deus). Esta negação é muitas vezes de uma forma que parece inofensiva, como esta imagem, mas que fica no inconsciente das pessoas e que as leva a ter um sentimento de repulsa para com a Igreja sem saber de onde este surgiu. Não se deixem enganar!

Já imaginaram como seria o mundo se esta negação a Deus e à Igreja é alargada? O problema da pobreza aumentaria, tal como a escravatura, a violência, a exploração infantil, o racismo… Se Deus não existisse, a morte passaria a ser um fim em si mesmo – nada haveria para além da morte. A vida deixava de ter sentido e todos os valores que a Igreja defende cairiam por terra. Como seria um mundo assim? Miséria, guerras, destruição, submissão, exploração…

É muito fácil atirar o problema da pobreza para o Papa, assim eu, tu e todos deixamos de estar implicados ele. A pobreza que aqui nos é apresentada não acaba com a venda de uma cadeira. A pobreza resulta da riqueza de poucos com a exploração de milhões de pessoas. E cabe a cada um de nós, mas do que dar uma esmola (que nos deixa com a consciência tranquila) ter em atenção o que compramos, a necessidade dessa compra e a origem da sua fabricação. Sabemos que ainda existe trabalho escravo e exploração infantil, cabe a cada um de nós ter em atenção aquilo que adquirimos de forma a não alimentar esta escravidão e esta discrepância entre poucos ricos e muito pobres. Sim, cada um de nós pode fazer a diferença para o bem ou para o mal.

Não sejam indiferentes a este tipo de imagens, cometem e não tenham medo. Aqui existe uma afronta clara à Igreja e à pessoa que a representa. Jesus nos diz “Não tenhais medo!”, tomem a iniciativa, não permitam que difamem a Igreja, não permitam que difamam a “Nossa Casa” e cada um de nós, pois a Igreja somos todos nós!

O hino da última JMJ era “Enraizados e edificados em Cristo, firmes na Fé” (São Paulo) – vamos pô-lo em prática. Um católico atualmente precisa de estar convicto da sua Fé, alimentá-la com oração, sacramentos e muita formação e pôr em prática na sua vida quotidiana, em tudo que faz. Não se deixem enganar! Fala-se agora de “Nova Evangelização”, pois bem, a nova evangelização passa por aqui. Por dar a cara, defender e atuar.

 
Encontrei comentários neste blogs que completa o que estou a tentar transmitir:






Sónia Graça



terça-feira, 3 de abril de 2012

Vigília Pascal na Noite Santa




Vigília significa estar de vela na noite. Na tradição judaica passava-se a noite do dia 14 fr Nisán (início do ano) em vigília, para recordar a passagem de Yahvé, o êxodo do Egipto. Muito cedo os cristãos fizeram o mesmo para celebrar a noite pascal, permanecendo de vigília, à espera do dealbar da ressurreição, com leituras, salmos e orações. A vigília por excelência é a Vigília Pascal.

No Sábado Santo, a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando na sua Paixão e Morte. Abstém-se do sacrifício da Missa (a mesa sagrada continua despida) até ao momento em que, depois da solene Vigília ou expectativa nocturna da ressurreição, se dará lugar à alegria pascal, que na sua plenitude se prolonga por cinquenta dias.

Neste dia não é permitido distribuir a sagrada comunhão, a não ser como viático.





Vigília pascal na Noite Santa

Na noite, em que Jesus Cristo passou da morte à vida, a Igreja convida os seus filhos a reunirem-se em vigília e oração. Na verdade, a Vigília pascal foi sempre considerada a mãe de todas a vigílias e o coração do Ano litúrgico. A sensibilidade popular poderia pensar que a grande noite fosse a noite de Natal, mas a teologia e a liturgia da Igreja adverte que é a noite da Páscoa, «na qual a Igreja espera em vigília a Ressurreição de Cristo e a celebra nos sacramentos» (Normas gerais sobre o Ano litúrgico, 20). No texto do Precónio pascal, chamado o hino “Exsultet” e que se canta nesta celebração, diz-se que esta noite é «bendita», porque é a «única a ter conhecimento do tempo e da hora em que Cristo ressuscitou do sepulcro! Esta é a noite, da qual está escrito: a noite brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Por isso, desde o início a Igreja celebrou a Páscoa anual, solenidade das solenidades, com um vigília noturna.



Segundo uma antiquíssima tradição, esta é uma noite de vigília em nome do Senhor (Ex 12, 42), noite que os fiéis celebram, segundo a recomendação do Evangelho (Lc 12, 35 ss.), de lâmpadas acesas na mão, à semelhança dos servos que esperam o Senhor, para que, quando Ele vier, os encontre vigilantes e os faça sentar à sua mesa.

Toda a celebração da Vigília Pascal se realiza de noite, isto é, não se pode iniciar antes do anoitecer do Sábado e deve terminar antes do amanhecer do Domingo.

A Missa da Vigília Pascal, ainda que termine antes da meia-noite, é a Missa pascal do Domingo da Ressurreição. Quem participar nesta Missa pode comungar de novo na segunda Missa da Páscoa.

Quem celebrar ou concelebrar a Missa da Vigília pode celebrar ou concelebrar de novo na segunda Missa da Páscoa.

O sacerdote e os ministros revestem-se, desde o princípio, com paramentos brancos, como para a Missa.

Preparam-se velas para todos os que tomam parte na Vigília.



A celebração da Vigília pascal articula-se em quatro partes: 1) a liturgia da luz ou “lucernário”; 2) a liturgia da Palavra; 3) a liturgia batismal; 4) a liturgia eucarística.

1) A liturgia da luz consiste na bênção do fogo, na preparação do círio e na proclamação do precónio pascal. O lume novo e o círio pascal simbolizam a luz da Páscoa, que é Cristo, luz do mundo. O texto do precónio evidencia-o quando afirma que «a luz de Cristo (...) dissipa as trevas de todo o mundo» e convida a «celebrar o esplendor admirável desta luz (...) na noite ditosa, em que o céu se une à terra, em que o homem se encontra com Deus!».

2) A liturgia da Palavra propõe sete leituras do Antigo Testamento, que recordam as maravilhas de Deus na história da salvação e duas do Novo Testamento, ou seja, o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinópticos, e a leitura apostólica sobre o Batismo cristão como sacramento da Páscoa de Cristo. Assim, a Igreja, «começando por Moisés e seguindo pelos Profetas» (Lc 24,27), interpreta o mistério pascal de Cristo. Toda a escuta da Palavra é feita à luz do acontecimento-Cristo, simbolizado no círio colocado no candelabro junto ao Ambão ou perto do Altar.

3) A liturgia batismal é parte integrante da celebração. Quando não há Batismo, faz-se a bênção da fonte batismal e a renovação das promessas do Batismo. Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal. A Igreja antiga batizava os catecúmenos nesta noite e hoje permanece a liturgia batismal, mesmo sem a celebração do Batismo.

4) A liturgia eucarística é o momento culminante da Vigília, qual sacramento pleno da Páscoa, isto é, a memória do sacrifício da Cruz, a presença de Cristo Ressuscitado, o ápice da Iniciação cristã e o antegozo da Páscoa eterna.

Estes quatro momentos celebrativos têm como fio condutor a unidade do plano de salvação de Deus em favor dos homens, que se realiza plenamente na Páscoa de Cristo por nós. Por consequência, a Ressurreição de Cristo é o fundamento da fé e da esperança da Igreja.





A luz e a água

A Vigília na noite santa abre com a liturgia da luz, evocando a ressurreição de Cristo e a peregrinação de Israel guiado pela coluna de fogo. A liturgia salienta a potência da luz, como o símbolo de Cristo Ressuscitado, no círio pascal e nas velas que se acendem do mesmo, na iluminação progressiva das luzes da igreja, ao acender das velas do altar e com as velas acesas na mão para a renovação das promessas batismais. O símbolo mais iluminador é o círio, que deve ser de cera, novo cada ano e relativamente grande, para poder evocar que Cristo é a luz dos povos. Ao acender o círio pascal do lume novo, o sacerdote diz: «A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito» e depois apresenta o círio como «lumen Christi - a luz de Cristo». Quando alguém nasce, costuma-se dizer que «veio à luz» ou que «a mãe deu à luz». Podemos, por isso dizer que a Igreja veio à luz na Páscoa de Cristo. De facto, toda a vida da Igreja encontra a sua fonte no mistério da Páscoa de Cristo.

A água na liturgia é, igualmente, um símbolo muito significativo. «A água é rica de mistério» (R. Guardini). Ela é simples, pura, limpa e desinteressada. Símbolo perfeito da vida, que Deus preparou, ao longos dos tempos, para manifestar melhor o sentido do Batismo. A oração da bênção da água faz memória da ação salvífica de Deus na história através da água. Com efeito, a água é benzida, para que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, «no sacramento do Batismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo». Na tradição eclesial, a fonte batismal é comparada ao seio materno e a Igreja à mãe que dá à luz

O simbolismo fundamental da celebração litúrgica da Vigília é o de ser uma “noite clara”, ou melhor «a noite que brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Esta noite inaugura o “Hodie - Hoje” da liturgia, como se tratasse de um único dia de festa sem ocaso (o dia da celebração festiva da Igreja que se prolonga pela oitava pascal e pelos cinquenta dias do Tempo pascal), no qual se diz «eis o dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos» (Sl 118).




Solene início da Vigília ou Lucernário


Introdução ao espírito da Celebração

Depois da cuidadosa preparação que foi para nós a Quaresma, vamos celebrar a ressurreição de Jesus, a Sua vitória sobre o pecado e a morte.

Nesta noite santíssima em que Jesus passou da morte para a vida, a Igreja convida os seus filhos para uma vigília de oração.

Começamos com a bênção do lume novo. Cristo é a luz que ilumina o mundo inteiro e a Sua ressurreição gloriosa é farol de luz para todos os homens.

Teremos, depois, a liturgia da palavra, com a meditação mais pausada da palavra de Deus, que enche a nossa alma da luz de Jesus.

Seguir-se-á, depois, a liturgia baptismal. Pela água do baptismo morremos com Cristo para o pecado e ressuscitamos com Ele para a vida nova da graça.

Finalmente, pela liturgia eucarística Jesus torna presente sobre o altar a Sua morte e ressurreição e alimenta-nos com a Sua carne e o Seu sangue, como Cordeiro da Páscoa nova



Bênção do fogo

As luzes da igreja devem estar apagadas.

Fora da igreja, em lugar apropriado, acende-se o lume. Reunido o povo nesse lugar, o sacerdote aproxima-se, acompanhado dos ministros, um dos quais leva o círio pascal.

Monição: Jesus ressuscitado é a luz que, na escuridão da noite, ilumina as almas de todos os homens. O Círio pascal é símbolo de Cristo. A sua luz comunica-se pela fé a cada um de nós, com a missão de a levarmos aos que estão à nossa volta.

Onde não for possível acender o fogo fora da igreja.

O sacerdote saúda o povo na forma habitual e faz uma breve admonição sobre o significado desta vigília noturna, com estas palavras ou outras semelhantes:

Caríssimos irmãos:

Nesta noite santíssima, em que Nosso Senhor Jesus Cristo passou da morte à vida, a Igreja convida os seus filhos, dispersos pelo mundo, a reunirem-se em vigília e oração. Vamos comemorar a Páscoa do Senhor, ouvindo a sua palavra e celebrando os seus mistérios, na esperança de participar no seu triunfo sobre a morte e de viver com Ele para sempre junto de Deus.

Em seguida, benze-se o fogo:

Oremos.

Senhor, que por meio do vosso Filho destes aos homens a claridade da vossa luz, santificai este lume novo e concedei-nos que a celebração das festas pascais acenda em nós o desejo do céu, para merecermos chegar com a alma purificada às festas da luz eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Do fogo novo acende-se o círio pascal.



Preparação do Círio

Pode ser oportuno realçar a dignidade e o significado do círio pascal mediante alguns símbolos. Isto pode fazer-se do seguinte modo:

Depois da bênção do lume novo, um acólito ou um dos ministros apresenta o círio pascal ao celebrante, o qual, com um estilete, grava no círio uma cruz; depois grava a letra grega Alfa por cima da cruz e a letra grega Ómega por debaixo e, entre os braços da cruz, grava os quatro algarismos do ano corrente. Enquanto grava estes símbolos, diz:

1. Cristo, ontem e hoje

Grava a haste vertical da cruz.

2. Princípio e fim

Grava a haste horizontal da cruz.

3. Alfa

Grava o Alfa por cima da haste vertical.

4. e Ómega.

Grava o Ómega por debaixo da haste vertical.

5. A Ele pertence o tempo

Grava no ângulo superior esquerdo o primeiro algarismo do ano corrente.

6. e a eternidade.

Grava no ângulo superior direito o segundo algarismo do ano corrente.

7. A Ele a glória e o poder

Grava no ângulo inferior esquerdo o terceiro algarismo do ano corrente.

8. para sempre. Amen.

Grava no ângulo inferior direito o quarto algarismo do ano corrente.

Depois de ter gravado a cruz e os outros símbolos, o sacerdote pode colocar no círio cinco grãos de incenso, em forma de cruz, dizendo:

1. Pelas Suas chagas                    1

2. santas e gloriosas,

3. nos proteja                       4    2    5

4. e nos guarde

5. Cristo Senhor. Amen.               3



O sacerdote acende do lume novo o círio pascal, dizendo:

A luz de Cristo gloriosamente ressuscitado nos dissipe as trevas do coração e do espírito.



Estes elementos podem ser utilizados, no todo ou em parte, conforme as circunstâncias pastorais do ambiente e do lugar. Entretanto, as Conferências Episcopais também podem determinar outras formas mais adaptadas à índole dos povos.

Quando, por justas razões, não se acende o fogo, a bênção do lume será adaptada convenientemente às circunstâncias. Reunido o povo na igreja, o sacerdote dirige-se para a porta da igreja, acompanhado dos ministros com o círio pascal. O povo, na medida do possível, volta-se para o sacerdote.

Feita a saudação e a admonição, como acima no n. 8, procede-se à bênção do lume (n. 9) e, se parecer oportuno, prepara-se e acende-se o círio (nn.10-12).





Procissão

Monição: Depois de aceso o círio pascal, vamos, agora, acompanhá-lo em procissão, aclamando a Cristo luz de todos os povos.

O diácono, ou, na falta dele, o sacerdote, toma o círio pascal e, levantando-o, canta sozinho:

V. A luz de Cristo. Lumen Christi

R. Graças a Deus. Deo gratias



As Conferências Episcopais podem estabelecer uma aclamação mais solene.

Dirigem-se todos para a igreja, indo à frente o diácono com o círio pascal. Se se usa o incenso, o turiferário, com o turíbulo aceso, vai à frente do diácono.

À porta da igreja, o diácono pára e, levantando o círio, canta pela segunda vez:

V. A luz de Cristo. Lumen Christi

R. Graças a Deus. Deo gratias



Acendem então as velas do lume do círio pascal. A procissão continua; e, ao chegar junto do altar, o diácono, voltado para o povo, canta pela terceira vez:

V. A luz de Cristo. Lumen Christi.

R. Graças a Deus. Deo gratias.



E acendem-se as luzes da igreja (mas não as velas do altar: cf. n. 31).



O simbolismo fundamental da celebração litúrgica da Vigília é o de ser uma “noite clara”, ou melhor «a noite que brilha como o dia e a escuridão é clara como a luz». Esta noite inaugura o “Hodie - Hoje” da liturgia, como se tratasse de um único dia de festa sem ocaso (o dia da celebração festiva da Igreja que se prolonga pela oitava pascal e pelos cinquenta dias do Tempo pascal), no qual se diz «eis o dia que fez o Senhor, nele exultemos e nos alegremos» (Sl 118).





Cântico: Kerygma II - Ressurreição (Terceira Margem)



Na manhã da Ressurreição três mulheres ao sepulcro vão

E descobrem que a pedra rolou.

O anjo anuncia: “Ele ressuscitou!”

Elas vão a correr contar, Pedro e João vêm confirmar que



A promessa feita, acabou de ser cumprida

Depois do deserto, vem a Terra prometida

Ressuscitou, ressuscitou, ressuscitou Aleluia



É pra mim, é pra ti, é pra nós

A Boa Nova que temos na voz e cantamos com alegria

Acredita na verdade: Ele ressuscitou!

Este é o Kerigma, o caminho que conduz à eternidade.




Na nossa paróquia

Na nossa paróquia a Vigília pascal começa às 22h na Igreja Matriz de Vila do Conde. Todos somos convidados, no exterior, a participar no "acender do lume novo" e a levar velas, ou adquirir no local, para as acender no novo círio pascal.
A celebração decorre como anteriormente referido. Este ano, como habitualmente, teremos batismos durante a celebração e terminaremos com a apresentação das cruzes do Compasso Pascal a beijar.
Todos somos convidados a participar nesta Grande Vigília - a celebração por excelência para todos os católicos.



 

GINEL, Álvaro – Vocabulário Básico do Cristão. Edições Salesianas: Porto, 2001


Padre José Cordeiro, Reitor do Pontifício Colégio Português (Roma) em: